terça-feira, 19 de junho de 2012

Fiat à margem da crise italiana

Presidente da multinacional fala ao JC e garante que turbulência europeia não afeta construção da fábrica em Goiana

Giovanni Sandes


“Não existe fábrica que se faça do dia para a noite.” O tom não é ofensivo ou de desabafo, mas didático, uma observação do presidente da Fiat/Chrysler na América Latina, Cledorvino Belini, sobre a expectativa pelo início das obras da Fiat em Goiana, no Litoral Norte. Lá, a montadora vai investir R$ 4 bilhões. Na noite da última quarta-feira, no Recife, primeiro dia de uma agenda de eventos da Fiat na capital, Belini falou com exclusividade ao JC.

A conversa foi rápida. Ele abordou o desafio técnico de criar no Estado uma fábrica de classe mundial, a segunda da empresa italiana em seus 36 anos no Brasil, e, questionado, ressaltou: a crise europeia não ameaça a vinda da Fiat para Pernambuco.

Belini veio ao Recife abrir o lançamento de novos produtos da montadora no Estado, o primeiro desde que a empresa anunciou o investimento em Goiana. Pouco depois de apresentar os veículos, Belini foi abordado pelo JC. O principal ponto da conversa foi a expectativa da população pelas obras da Fiat. A montadora ressalta manter como início de funcionamento da fábrica o mês de março de 2014. Mas, no Litoral Norte, a expectativa é pelo início da construção, que vai gerar até 7 mil empregos.

Segundo Belini, ainda não é possível dar prazo para o início das obras. A Fiat trabalha no detalhamento da fábrica, que vai integrar muito os fornecedores à linha de produção de veículos, um abastecimento em tempo real. “Esse detalhamento técnico é muito complexo. Não só pela engenharia, processos, contratos, mas também porque envolve o futuro. Como saber qual a tecnologia certa, duradoura? É difícil”, comentou Belini. Como exemplo de complexidade, o executivo apontou para um carro lançado no evento: “Um automóvel desses tem 3.500 componentes.”

Sobre os nomes de fornecedores da Fiat que virão para Pernambuco, Belini disse que os contratos ainda serão fechados e que os nomes vez por outra lançados na mídia seriam só especulação.


Ele foi perguntado sobre o risco de a Itália, sede da Fiat, ser o novo foco da crise europeia. Belini falou da gravidade da situação no mundo, mas ponderou de forma tranquila: “Isso não afeta nosso projeto em Pernambuco. Uma fábrica desse porte é um investimento de longo prazo.”

Minutos antes da entrevista, o executivo, no palco do evento, elogiou as medidas do governo federal para reaquecer as vendas de automóveis, como a nova redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), e falou sobre o papel da Fiat no desenvolvimento de Pernambuco.

E sintetizou, em uma frase curta, a aposta da Fiat no Nordeste, que tem 53 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 250 bilhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Isso significa, em termos de geração de riqueza, que o Nordeste é equivalente ao quarto país mais importante da América do Sul.”

Governador atesta os prazos da montadora


O governador Eduardo Campos, durante evento da Fiat, na última quarta-feira, (13/06) afirmou que a montadora está cumprindo todos os cronogramas acertados pela montadora com o Estado. Isso apesar de o próprio governo ter montado cursos focados no setor com uma meta específica: ter pessoal e terraplenagem do terreno da fábrica prontos, em Goiana, até abril passado. A meta é ter a fábrica operando em março de 2014.

A afirmação do governador foi feita em discurso para uma plateia de donos de concessionárias, frotistas e fornecedores da Fiat, além de jornalistas de todo o Brasil, trazidos ao Recife para o lançamento de novos produtos da montadora.

INSTALAÇÃO DA FÁBRICA Aproveitando a solenidade com executivos da Fiat, Eduardo Campos afirmou que as datas acordadas com a empresa estão sendo cumpridas

Eduardo respondia a elogios públicos feitos pelo presidente da Fiat/Chrysler na América Latina, Cledorvino Belini, quando citou o assunto dos prazos, sem qualquer menção a uma data efetiva para o início das obras.

“O time de nosso governo e o time da Fiat estão cumprindo todos os cronogramas que acertamos mutuamente, para termos trabalhando nos próximos meses, em Goiana, gente pernambucana, gente nordestina”, afirmou Campos.

O governador, assim como fez Belini, elogiou os incentivos concedidos pelo governo federal à indústria automotiva como forma de evitar que o Brasil sofra os efeitos da crise econômica mundial.


Em outro momento do discurso, Eduardo ressaltou a ousadia da Fiat em desbravar o Nordeste, se instalando em Goiana, Pernambuco, assim como a empresa fez há 36 anos, quando escolheu se instalar em Betim (MG), fora de São Paulo, grande polo automotivo do País.

Fora do palco, em entrevista, Eduardo comentou a proposta feita por sua equipe de governo à Fiat (e revelada pelo JC, na última quarta-feira), de criar um ou mais polos para instalar os fornecedores da indústria automotiva no Litoral Norte.

Desde que a Fiat foi anunciada para o Litoral Norte, a grande discussão é sobre a disposição geográfica dos sistemistas. Cerca de 15 deles ficarão no mesmo terreno da fábrica da montadora. Mas em torno de 40 seriam instalados em um raio de até 40 quilômetros da fábrica, de forma dispersa.
A ideia em discussão é criar núcleos de fornecedores. Foram apresentadas três diferentes áreas à montadora. Eduardo ressaltou que o novo formato é fruto de debate com a Fiat e serviria para organizar e planejar melhor a chegada das dezenas de sistemistas (como são conhecidos fornecedores fisicamente ligados à linha de produção), concentrando serviços básicos como coleta de esgoto e de lixo, luz e abastecimento de água.

“É uma coisa mais planejada, mais estruturada. O impacto desses investimentos pode ser mais e mais aproveitado, se racionaliza custos. É algo que pode ser feito, evitando inclusive erros que foram cometidos no setor em São Paulo, no Paraná e em Minas Gerais, no processo de chegada dos sistemistas”, comentou o governador.

JORNAL DO COMMERCIO

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