quinta-feira, 21 de junho de 2012

Camargo Corrêa compra 4ª maior cimenteira do Brasil por 3 bilhões de euros


A Camargo Corrêa anunciou nesta quarta-feira a conclusão de sua oferta de aquisição da cimenteira portuguesa Cimpor, num investimento total de quase 3 bilhões de euros que lhe dará controle sobre a quarta maior produtora de cimento do Brasil.

O grupo brasileiro, por meio da unidade InterCement, investiu 1,5 bilhão de euros na oferta, que lhe garantirá 94,81% de participação na Cimpor, após desembolsar 1,44 bilhão de euros em 2010 para ingressar no capital da cimenteira portuguesa.

Com a aquisição, a InterCement pulará da terceira para a segunda posição no ranking de produtores de cimento do Brasil, dobrando sua produção para cerca de 11,4 milhões de toneladas, segundo dados mais recentes da associação que representa o setor, o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

A liderança é ocupada pelo grupo Votorantim, que produz 22,4 milhões de toneladas e trocará sua participação na Cimpor por ativos internacionais da cimenteira portuguesa na Ásia, África e em alguns mercados sul-americanos.

Com a troca de ativos, a Votorantim ampliará também a sua atuação internacional. O grupo já detém fábricas de cimento no Canadá e Estados Unidos, e participações na Bolívia, Chile, Argentina, Uruguai e Peru.

Na oferta pública de aquisição (OPA), a Camargo Corrêa pagou 5,50 euros por ação, preço inferior aos 6,5 euros oferecidos pela Companhia Siderúrgica Nacional em 2010. O grupo já era o maior acionista da Cimpor, com uma participação de 32,9%, e comprou um lote adicional de 40,6%. A Votorantim detém outros 21,2%.

Segundo a Camargo Corrêa, a participação da Votorantim será definitivamente transferida para a Camargo assim que duas complexas trocas de ativos entre os grupos estiverem concluídas.
A Camargo Corrêa vai integrar suas operações angolanas e sul-americanas, que incluem Brasil e Argentina, na Cimpor. A partir daí, a Votorantim terá oportunidade de adquirir as operações da Cimpor na China, Índia, Turquia, Marrocos, Tunísia, Peru e parte dos negócios da portuguesa na Espanha a um preço definido por auditores independentes.

A operação também envolve parcela equivalente a 21,21% da dívida líquida da Cimpor.
O presidente da InterCement, José Édison Barros Franco, disse que a Camargo Corrêa só conseguiu realizar a aquisição por duas razões: "A primeira, porque no Brasil existe financiamento disponível para financiar este tipo de operações com alguma dimensão. A segunda, porque alguns acionistas da Cimpor precisavam vender suas participações, como os jornais portugueses adiantaram", disse.

CADE

O desenho da operação pode ajudar na aprovação do negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que afirmou nesta quarta-feira que "o caso está em análise e é objeto de preocupações concorrenciais desde seu início, dado que o setor apresenta fortes indícios de concentração". O órgão ainda não tem previsão de julgamento do caso.

Em abril, o presidente do órgão afirmou que qualquer operação societária envolvendo a Cimpor que reduza a concentração no mercado brasileiro seria melhor do ponto de vista concorrencial.
Atualmente, a Votorantim detém cerca de 40% das vendas totais de cimento do Brasil. A InterCement tem 10%.

Com a compra da Cimpor, a InterCement reforçará sua atuação com fábricas de cimento da companhia portuguesa localizadas no Nordeste do Brasil, uma das regiões de mais forte crescimento no país, sendo duas na Bahia, uma na Paraíba e outra em Alagoas.

A empresa também passará a ter capacidade no Centro-Oeste e Sul do país, com uma unidade em Goiás e outra no Rio Grande do Sul.

A operação acontece em um momento de forte crescimento das vendas de cimento no Brasil, em meio a programas governamentais de incentivo à construção civil nos setores de habitação e infraestrutura.

Segundo dados do Snic, a venda de cimento no país cresceu 7% em 2011, para um recorde 63,5 milhões de toneladas. A expectativa para este ano é de alta entre 5,5% e 6%.

RECEITA MAIOR

"O resultado final será uma Cimpor maior e não menor, em geração de Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização)", disse Franco.

"Gostaria de frisar que não era nossa intenção fazer a troca de ativos, mas ela surgiu porque um acionista relevante (Votorantim) disse-nos que não venderia sem isso", afirmou o executivo.
Franco afirmou que a InterCement ainda não tomou decisão sobre manter a Cimpor na bolsa de Lisboa, apesar da empresa deixar o índice PSI20 a partir de 22 de junho por causa da conclusão da oferta.

O executivo não deu detalhes sobre a atual equipe de gestão da Cimpor, liderada atualmente pelo presidente do conselho Castro Guerra e pelo presidente-executivo Francisco Lacerda. "Será feito um comunicado ao mercado sobre o tema", afirmou.

FOLHA.COM

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