sexta-feira, 8 de junho de 2012

Atração de fabricantes de máquinas ao NE é desafio

A falta de mão de obra qualificada é entrave para instalação de fabricantes de equipamentos na região
Ao mesmo tempo em que recebe cada vez mais atenção por parte de fabricantes e lojistas de outras regiões, o setor de calçados, no Nordeste, que tem conquistado aumento na produção e no mercado consumidor, tem demandado um número crescente de investimentos que viabilizem a manutenção do ritmo de expansão, principalmente no que se refere à maior facilidade ao acesso a matéria-prima e equipamentos. Apesar de vislumbrarem a possibilidade de se instalar na região, fornecedores aguardam um momento mais apropriado para criarem unidades produtivas.

Principal reflexo da instalação de uma fabricante na região seria a redução dos custos de produção e dos itens à venda FOTO: DIVULGAÇÃO
Das 60 fábricas que compõem a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores de Couro (Abrameq), nenhuma está localizada na região, obrigando os produtores a comprar máquinas das regiões Sul e Sudeste, o que acarreta em maiores custos de produção e menos agilidade no desenvolvimento de novos produtos. A demanda maior por equipamentos nos últimos anos está também ligada à maior frequência com que se dão inovações e lançamentos por parte dos fabricantes de calçados, por conta da competitividade.

Destaque nacional
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados e Artefatos da Paraíba (Sindicalçados) Eduardo Almeida, o esforço do setor, agora que as indústrias do Nordeste têm ganho destaque maior no cenário nacional, é atrair compradores de outros estados. O passo seguinte, que já tem sido estudado, afirma, é atração de fabricantes de máquinas para a região. Ele ressalta que o setor se prepara para dialogar com as administrações estaduais, de forma mais incisiva, para tentar viabilizar a atração. "É um namoro que ainda está no começo", comenta.
Ontem, Almeida participou do Gira Calçados, que ocorre até amanhã em Campina Grande (PB) e reúne produtores e lojistas do setor. Para que seja tomado esse novo passo no Nordeste, contudo, a região ainda precisa se mostrar mais atrativa a possíveis investidores. Entre os representantes de fábricas que se encontravam ontem no evento, uma resposta se repetia com frequência, quando eram questionados sobre a possibilidade de inaugurar uma unidade no Nordeste: "Ainda não. O mercado ainda não comporta".

Potencial, mas nem tanto
Para a maior parte dos fabricantes, o Nordeste é uma região que possui potencial expressivo, mas ainda não existe uma demanda que justifique um investimento do gênero, principalmente por conta da complexidade da instalação de uma fábrica desse tipo. Todavia, aposta a maior parte dos empresários, caso o ritmo de crescimento se mantenha, a região deverá passar a receber investimentos do gênero, logo que a instalação parecer viável.
"A gente sabe que algumas empresas individualmente já cogitam e conversam. Hoje, talvez não seja viável, mas, talvez, num futuro próximo, a gente possa estar implantando uma planta produtiva", aponta o presidente da Abrameq, Daniel Steigleder. Essa implantação, indica o gerente de vendas da fábrica Tecnomaq, Ivan Balbinot, tem ainda um grande obstáculo a ser superado: a ausência de mão de obra qualificada, no Nordeste, para atuar nesse segmento. "No nosso caso, isso é o que parece ser o maior empecilho". Conforme Balbinot, as vendas de máquinas para o Nordeste correspondem a cerca de 10% das comercializações da empresa, enquanto outros 15% a 20% são exportados e o restante é vendido às regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. "No Sul, nós temos escolas especializadas que formam mão de obra já voltada para esse setor. Isso é fundamental, porque é uma produção bastante específica", corrobora Steigleder.

Sem suporte

Para os produtores de calçados, a ausência desse tipo de suporte chega, em alguns casos, a se tornar um entrave significativo. Segundo o gerente comercial da marca Bê e Bí, que produz calçados infantis em Campina Grande, Assis dos Santos, a perda de negócios é um dos reflexos do fato. Ele conta que, devido à demora para receber um equipamento que comprara de uma empresa da região Sul, teve de atrasar a inauguração de uma nova unidade da empresa, localizada em Serra Redonda, na Paraíba. "Foi uma batalha. Esperei três meses pela máquina", diz.
Para o empresário Hélio Rodrigues, da Ramagem Couros, que possui uma fábrica em Juazeiro do Norte (CE), por conta dos representantes que as fabricantes das máquinas possuem no Nordeste, o processo de compra é mais simples, embora ainda oneroso. O principal reflexo da instalação de uma fabricante na região, afirma, seria a redução dos custos de produção e dos itens à venda.
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, dos 890 milhões de pares produzidos no País em 2010, cerca de 400 milhões foram fabricados no Nordeste, onde se concentram 627 das 8,2 mil empresas do setor no Brasil.

JOÃO MOURA REPÓRTER
O jornalista viajou a convite do Sebrae da Paraíba

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