Anseio de um progresso contínuo. O lema do município de Escada, fundado há quase 140 anos, não poderia ser mais atual. A cidade, que sempre teve sua economia baseada na cana-de-açúcar e costumava servir de dormitório para aqueles que trabalhavam nos municípios vizinhos ou no Recife, agora está se destacando também na indústria. Nove empresas já estão em operação no distrito industrial (DI) e outras nove estão em processo de instalação, a maioria de olho no desenvolvimento do Complexo Industrial Portuário de Suape. Juntas, elas significam investimentos de R$ 143,8 milhões, com geração de 2,4 mil empregos.
Situada às margens da BR-101, na Mata Sul, a 50 quilômetros do aeroporto, a 30 quilômetros de Suape e também a 30 quilômetros da BR-232, o grande trunfo de Escada está em sua posição logística. Sete capitais nordestinas estão a cerca de 800 quilômetros e, para completar, a ferrovia Transnordestina cortará a cidade. “Essa condição já fez com que Escada fosse mapeada até por empresas de fora do país”, diz Fernando Clímaco, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico.
Mas essa vantagem logística não tinha visibilidade até pouco tempo atrás. Além das usinas de açúcar e destilarias de álcool, a única indústria que funcionava em Escada pelo menos até os anos 2000 era a Companhia Industrial Pirapama, da área têxtil. Aos poucos, outras foram chegando. A Soprano e a Ghel Plus foram as primeiras, seguidas pela Tigre. “Aí a refinaria e o estaleiro começaram a se instalar em Suape e nós começamos a vender a cidade como possível destino para empresas”, completa Fernando.
Por causa de Suape, estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB) do município, atualmente em R$ 327,1 milhões, irá dobrar nos próximos cinco anos, posicionando-se entre as vinte maiores economias do estado. Hoje é a 27ª. Os primeiros resultados já começam a aparecer. No último levantamento divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, referente ao mês de novembro, Escada foi o 11º município que mais gerou empregos com carteira assinada em Pernambuco.
Essa nova dinâmica provoca dois efeitos interessantes. O primeiro é a invasão de pessoas de fora, que chegam para trabalhar nas novas fábricas. O segundo é a volta de escadenses que antes precisavam buscar trabalho no Centro-Sul do país. É o caso de Manoel Messias, 39 anos. Ele teve diversos empregos temporários na Paraíba, em São Paulo, no Rio de Janeiro e até no Mato Grosso. Há cerca de um ano, encontrou emprego fixo na Maxen. Começou como encanador e agora é líder de montagem.
“Nunca fiz curso técnico, mas eu tinha conhecimento na área de tubulação e passei por um treinamento para me adequar à empresa. Minha vida melhorou muito, pois agora trabalho perto de casa. Saio de casa cedo e volto cedo, não tenho do que reclamar”, conta Manoel, que tem esposa e três filhos. Antes, ele costumava atuar em obras com começo, meio e fim. Quando a obra acabava, a força de trabalho era desmobilizada e Manoel voltava para casa. Para ele, o trabalho em uma fábrica significa, acima de tudo, continuidade.
Iniciativa serve de exemplo a vizinhos
O DI de Escada está se desenvolvendo tão
rapidamente que já chama a atenção de outros municípios, pertencentes ao
Território Estratégico de Suape. Antes, quando era formado por apenas
cinco municípios, Escada era o único de fora da Região Metropolitana do
Recife, ao lado do Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão, Ipojuca e Moreno.
Os que entraram depois (Ribeirão, Rio Formoso e Sirinhaém), agora estão
se espelhando na experiência de Escada.
A grande vantagem de se instalar em Escada e não em Jaboatão dos Guararapes ou Cabo de Santo Agostinho, por exemplo, é o incentivo fiscal. O Programa de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco (Prodepe) concede 85% de crédito presumido do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empreendimentos situados na Zona da Mata, contra 75% na RMR.
Esse diferencial anda atraindo, inclusive, empresas sediadas em outros municípios pernambucanos. O grupo catarinense Royalpack opera em Paulista desde 2008 em um galpão provisório e está transferindo sua planta de embalagens de alumínio e plástico para Escada. “Paulista não dispõe de área para crescermos. A decisão da empresa é ter um ponto fixo, porque a gente acredita no Nordeste”, depõe o diretor da Royalpack no Nordeste, Marçal Marreca.
O projeto completo está orçado em R$ 13,7 milhões, com previsão de faturar R$ 60 milhões anuais em quatro anos e podendo gerar entre 120 e 130 empregos. Hoje, a Royalpack em Paulista fatura cerca de R$ 16 milhões e possui algo em torno de 70 funcionários. “Teremos uma nova linha para fabricar bobina picotada de hortifruti e saco de lixo e também vamos passar a atender o Norte do país”, justifica Marreca.
O início da operação da Royalpack está previsto para o segundo semestre de 2013. Outras duas empresas que já operavam em Escada, a Ghel Plus e a Millena Móveis, também estão se transferindo para o DI. (M.B.)
ESPECIALIZAÇÃO PARA SUPRIR TODA CADEIA
Município quer atrair empresas com distintas vocações da área de metalmecânica e assim garantir mercado no NE
A presença de empresas dos setores de óleo e gás e naval e offshore
no DI de Escada significa um passaporte carimbado para o presente e o
futuro da nova economia pernambucana. A ideia é fechar toda a cadeia
metalmecânica, com empresas capazes de cortar, dobrar, soldar, pintar,
dar tratamento térmico e inspecionar tubos e outras estruturas metálicas
demandadas por refinarias e estaleiros. Não apenas em Pernambuco, mas
em todo o Nordeste.Das nove empresas já em funcionamento no DI de
Escada, cinco são fornecedores ou potenciais fornecedores dessa cadeia –
Maxen, MCM, TAJET, PPL e Max Pinturas. “Estamos negociando agora com
uma empresa especializada em inspeção, raio x e ultrassom de solda. Com
isso teremos um polo pronto para atender Suape ou qualquer outro estado
do Nordeste”, adianta o secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico, Fernando Clímaco.
Essa empresa em negociação, segundo fontes do mercado, é a Arctest. Elas chegam atraídas por um cenário bastante promissor. Além da Refinaria Abreu e Lima, da PetroquímicaSuape e do Estaleiro Atlântico Sul, estão previstos outros quatro estaleiros para Suape – Promar, CMO, Galíctio e Navalmare. Fora isso, tem as refinarias Premium I (MA) e Premium II (CE) e o Estaleiro Eisa, em Alagoas, em processo de implantação.
Uma empresa acaba puxando a outra. Jatex, Rosso e Engemet, além da própria Arctest, estão vindo na esteira da Alphatec, pois já são parceiras no atendimento à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. “Nosso principal objetivo aqui é prestar serviço à Refinaria Abreu e Lima, desde a construção até a operação. Na Reduc, fazemos apenas manutenção”, compara o presidente da Alphatec, Mário Wilson de Oliveira.
A Alphatec, um projeto de R$ 15 milhões, deve começar a operar até julho ou agosto. E pode crescer. A empresa estuda transferir para Pernambuco parte da fábrica de módulos flutuadores para raisers de perfuração de petróleo, um projeto em gestação orçado em cerca de R$ 10 milhões. No mundo, só duas empresas são capazes de construir esses módulos. “O plano de negócios está sendo feito e até maio ou junho vamos tomar uma decisão”, afirma Mário.
Junto com a fábrica da Alphatec chega um centro de treinamento para mil pessoas. Lá serão treinados soldadores, caldeireiros, pintores e mecânicos para atender às exigências da Petrobras. Muitos virão do corte da cana, como ocorre em Macaé (RJ). “A mão de obra é um desafio e uma etapa a ser vencida. Não deve ser motivo de preocupação”, ensina o executivo. (M.B.)
Por MICHELINE BATISTA \ Diário de Pernambuco
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