segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Suape, passaporte para o futuro

20110814-123522.jpg

Sobrevôos de helicóptero viraram rotina no Complexo Industrial Portuário de Suape. São pelo menos oito por mês. É do alto que o governo de Pernambuco gosta de apresentar, a empresários daqui e do exterior, o maior polo de atração de investimentos do Brasil. Distante 50 quilômetros do Recife, com área distribuída entre os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, esse gigante tem uma carteira de empreendimentos privados estimada em US$ 22 bilhões. A construção de uma refinaria de petróleo, de estaleiros, de um complexo petroquímico, de dezenas de fábricas e de projetos de infraestrutura faz de Suape um canteiro de obras sem similar em território nacional. Redenção da nova economia de Pernambuco, Suape poderá devolver ao Estado sua posição de liderança regional.

“De cima é possível ter uma dimensão do que é Suape hoje, desde a área portuária até o complexo de indústrias. Recebemos, por mês, uma média de 20 grupos de empresários e instituições interessadas em conhecer o fenômeno que ocorre aqui”, diz o vice-presidente do porto, Frederico Amâncio. Os empresários que escolhem o complexo como endereço de seus negócios, apontam pelo menos três singularidades em comum: localização geográfica privilegiada, boa infraestrutura e mercado consumidor em expansão.

A chegada de grandes empreendimentos veja artes provocou uma mudança de escala no porto. Os investimentos públicos saltaram da casa dos milhões para alcançar o patamar dos bilhões. Nos últimos 4 anos, os aportes do governo somaram R$ 1,1 bilhão. Para o próximo quadriênio, a projeção é desembolsar R$ 4,4 bilhões em obras. São intervenções para melhorar a infraestrutura portuária, com a construção de novos cais, além de obras viárias, de mobilidade e habitação. Os investimentos da iniciativa privada também se multiplicam. Atualmente, 114 empresas integram o complexo industrial, gerando 20 mil empregos, e outras 30 estão em implantação.

“Não é mais possível pensar em Suape sem olhar o que acontece no mundo. Os países emergentes ganharam importância na economia global. Os Brics (Brasil, Rússia, China e Índia) já representam 22% do PIB mundial. Nessa tendência, Brasil, Nordeste e Pernambuco ganham importância”, aposta o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado e presidente do Porto de Suape, Geraldo Júlio. Com players mundiais instalados em Suape, a exemplo da Petrobras, a diretoria do complexo criou o fórum Suape Global e elaborou um novo plano diretor do local. O fórum quer transformar o Estado num polo provedor de bens e serviços para as indústrias de petróleo e gás, naval e offshore. E o plano diretor revisado vai permitir planejar a expansão de Suape num horizonte de 20 anos.

A estratégia do governo de Pernambuco é transformar Suape em um hub port (porto distribuidor de cargas) do Nordeste. A movimentação de mercadorias, que hoje cresce a taxas superiores a do PIB estadual, terá salto exponencial quando a refinaria, o polo petroquímico e a ferrovia Transnordestina entrarem em operação. No ano passado, Suape movimentou 9 milhões de toneladas, com crescimento de 16,3% sobre 2009. Para este ano, a estimativa é alcançar 11 bilhões de toneladas e saltar para 30 milhões em 2013 e 50 milhões em 2016. Só no primeiro semestre deste ano, a expansão já foi de 20,1% sobre igual intervalo de 2010. “Também fomos o primeiro porto do Nordeste a operar linhas direta para a Ásia. A partir deste ano passamos a contar com duas linhas. Antes, essa movimentação era feita a partir do Porto de Santos”, comemora Amâncio.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirma que o gigantismo de Suape exige a prática de uma nova governança. “Cresce na nossa consciência a importância de planejar a expansão dessa região. Não queremos repetir desigualdades que se arrastam por quatro séculos de história. Porque de desigualdade esse território de Suape entende. São marcas muito profundas, que começaram com a exploração dos índios e dos escravos, e não poderão se repetir nesse novo ciclo de desenvolvimento”, defende.
HISTÓRIA
Em novembro deste ano, o Complexo de Suape comemora 33 anos de história. “Quando o então governador Eraldo Gueiros lançou a pedra fundamental do primeiro porto-indústria de Pernambuco, já vislumbrava que o complexo se transformaria em motor da economia do Estado. O projeto inicial previa a implantação de uma unidade de refino e de estaleiro, que hoje se concretiza”, recorda o jornalista Anchieta Hélcias, que integrou a primeira equipe responsável por tratar da implantação de Suape. O porto alterou a paisagem da região, secularmente ocupada pelo cultivo da cana-de-açúcar. As indústrias surgiram no lugar dos engenhos e mudaram o curso da história.

Pernambuco vive um processo de reindustrialização. Após duas décadas de letargia, o setor volta a ter relevância no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, capitaneado pelos empreendimentos ancorados no Complexo de Suape. A economia historicamente arraigada na cana-de-açúcar estreia, agora, em setores de integração global. O Estado crava sua bandeira no mundo do refino de petróleo e da petroquímica e na emergente indústria naval.

“Entre 1985 e o final dos anos 90, a economia do Estado não se deu bem e o principal problema estava na indústria de transformação. Setores inteiros deixaram de existir e outros perderam força. Um exemplo foi a atividade têxtil, que impactou outras indústrias da cadeia produtiva, como a metalmecânica”, recorda a economista Tania Bacelar, especialista em estudos do Nordeste.

Eram tempos amargos para a economia pernambucana. Os empresários andavam cabisbaixos e pairava um clima de desânimo com as repetidas notícias de que o Estado perdia espaço no cenário nordestino para Ceará e Bahia. O PIB apresentava taxas negativas de expansão. De 1985 até 2003, o crescimento médio da economia foi minguado (1,9%). O setor industrial estava estagnado (0,5%) e a indústria de transformação registrava taxa negativa de 0,6%. A participação da atividade no PIB despencou de 25% para 11,3%. “Agora existe uma tendência consolidada de retomada da participação da indústria na economia do Estado, com perspectiva de que volte a representar um quarto ou um terço do PIB”, acredita o economista Sérgio Buarque.

Enquanto o Brasil fala em desindustrialização, por conta do câmbio que provocou uma desova de produtos importados por aqui, Pernambuco comemora uma nova revolução no setor. As transformações têm contornos semelhantes (guardadas as proporções) ao que aconteceu na Inglaterra no século 18, durante a Revolução Industrial. O país europeu experimentou um acelerado crescimento econômico, mas também conviveu com concentrações urbanas (por conta do deslocamento rural para as cidades), com trabalhadores habitando cortiços, com crescimento exponencial da população de Londres e aumento das demandas sociais.
Em Pernambuco, a industrialização protagonizada por Suape motivou a volta de nordestinos para a região, uma invasão de trabalhadores de outros Estados e o desafio aos municípios de oferecer infraestrutura para dar conta das necessidades sociais que surgiram. A renovação da indústria mudou, ainda, a relação entre capital e trabalho. A importação de operários mais politizados e com experiência nacional mudou o cenário dos canteiros de obras, impondo aos industriais a necessidade de reaprender a dialogar com essa nova mão de obra.

Em 2035, Pernambuco, que tem um Produto Interno Bruto (PIB) hoje de R$ 80 bilhões, poderá ter seu conjunto de riquezas equivalente ao do Nordeste, atualmente na casa dos R$ 400 bilhões. Ou, numa projeção menos otimista, alcançar a casa dos R$ 255 bilhões. Em qualquer um dos dois cenários, traçados por especialistas, a economia do Estado vai crescer pelo menos três vezes, na comparação com o panorama atual. O Complexo de Suape será a locomotiva dessa expansão e vai motivar um crescimento acelerado também nos municípios do chamado território estratégico, responsáveis por 20% do PIB estadual.
Mesmo antes da entrada em operação de grandes empreendimentos, como a Refinaria Abreu e Lima, o “Eldorado pernambucano” já mostra sua força transformadora na economia. Enquanto o PIB brasileiro ficou estável em 2009, com crescimento de 0,2%, registrou taxa de 5,6% no Estado. No ano passado o PIB pernambucano se aproximou dos dois dígitos (9,3%), enquanto o nacional ficou em 7,5%. A construção civil é o setor que mais cresce, em razão da fase de obras dos empreendimentos em Suape, ultrapassando a casa dos 20%.

Os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, que recebem os impactos diretos do “fenômeno Suape”, também assistem a uma franca expansão de suas economias. No Cabo, a receita mais que dobrou desde que os grandes empreendimentos começaram a chegar, a partir de 2005. Entre aquele ano e 2010, o dinheiro em caixa saltou de R$ 157,7 milhões para R$ 347,8 milhões.

Cidade-sede da maioria das novas indústrias estruturadoras localizadas em Suape, Ipojuca é destaque nacional nas listas de municípios que lideram geração de empregos, desembolsos de financiamentos bancários e volume de investimentos privados. O superintendente regional do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em Pernambuco, Paulo Guimarães, lembra que Ipojuca ficou em segundo lugar no País na liberação de financiamentos em 2009, atrás apenas de São Paulo. “É verdade que naquele ano foram liberados R$ 9 bilhões para a refinaria, mas em 2010 o município continuou apresentando uma boa colocação, ficando em 7º lugar no País”, acrescenta.

Ipojuca figura, ainda, como a nova fronteira do emprego. O Ministério do Trabalho e Emprego aponta para a criação de 16.413 vagas formais em 2010. Só em dezembro do ano passado foram 1.376 postos, colocando o município em terceiro lugar no ranking nacional.
“Nos últimos 8 anos, Ipojuca tem percebido esse crescimento econômico com muita força. Nosso povo só sabia o que era a economia do açúcar. Apesar de o Porto de Suape ter se instalado aqui há três décadas, a participação de ipojucanos trabalhando nas indústrias era muito pequena. Hoje isso mudou, porque existe um acordo entre as empresas, o governo do Estado e a prefeitura para contratar pessoas da região. Apesar disso, ainda ficamos com os menores salários”, lamenta o prefeito Pedro Serafim.

O gestor afirma que, apesar de a receita ter engordado, as demandas sociais cresceram com muita rapidez e alerta para a necessidade de as empresas oferecerem contrapartidas sociais. “A Petrobras está investindo R$ 30 milhões em projetos numa parceria conosco, mas a conta acaba ficando pela receita, porque a empresa tem com um grande pacote de benefícios fiscais e exige uma infraestrutura gigante para atender a seus trabalhadores”, observa.

20110814-123235.jpg
20110814-123613.jpg
20110814-123705.jpg
20110814-123744.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário